O TEATRO FRACTAL E A METODOLOGIA DOS RITOS
DE JANSSEN HUGO LAGE
Se o espaço é infinito, estamos em qualquer ponto do tempo.
Se o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do espaço.
Jorge Luis Borges
A ciência dos fractais apresenta estruturas geométricas de grande complexidade e beleza infinita, ligadas às formas da natureza, ao desenvolvimento da vida e à própria compreensão do universo. São imagens de objetos abstratos que possuem o caráter de onipresença por terem as características do todo infinitamente multiplicadas dentro de cada parte, escapando assim, da compreensão em sua totalidade pela mente humana. Distante do rigor e do formalismo matemático pode-se definir Fractais como "Objetos que apresentam auto-semelhança e complexidade infinita, ou seja, têm sempre cópias aproximadas de si mesmo em seu interior". Existem duas características muito freqüentes nesta geometria: auto-semelhanças e complexidade infinita. A concepção teatral, dramatúrgica e de encenação que proponho em meus textos e montagens é fractal tautológica, ou seja, a definição do significado de suas criações artísticas está contida em si mesma. Algumas vezes sem evidenciar informações sobre seu significado, por outras dando elementos para além dos limites do conteúdo textual, seja através da respiração, seja por meio do corpo e voz dos atores, do ritmo ou do tom das cenas e, ainda, na própria construção das marcas e repetições de cenas com significados distintos; semelhantes, porém com seus registros individuais e distintos, expostos na concepção geral da obra. As estruturas fractais repetem-se, aparecendo e desaparecendo constantemente, dissolvendo-se e reaparecendo, mas elas não se repetem precisamente. São variações sutis que são características de sistemas complexos e não lineares qualidades da Biocibernética do ator, elemento integrante dos estudos da “Linguagem dos Ritos”, metodologia criada para o trabalho do ator; baseia-se no enfoque holístico da realidade, que sustenta a ideia de que o ser humano é muito mais do que a matéria física; que o homem é matéria e antimatéria; que estamos inseridos num universo formado por campos de energia interligados, onde tudo está a interagir constantemente. A partir de referências dos trabalhos de personalidades como Isaac Newton, Albert Einstein, Paul A. M. Dirac, Heisenberg, Carl Jung, Rajneesh, Capra, Ramón Soler, Teilhard de Chardin, Richard Gerber, Lao Tsé e outros, e muito das teorias clássicas orientais, a pesquisa da “Linguagem dos Ritos” revela o caráter eclético e integrador do método. Foi concebido durante anos de pesquisa com o fazer teatral, em meus estudos e práticas na busca por ferramentas para o trabalho com o ator. A partir da fusão dos estudos do trabalho de Vsevólod Meyerhold e dos rituais de purificação física e mental utilizados no antigo oriente há milhares de anos. Foram traduzidos e adaptados ao modo de pensar ocidental e implementados no processo de desenvolvimento do ator. O método consiste em 33 movimentos psicofísicos, designados Ritos. Os atores são estimulados à descoberta e ao domínio da Sensibilidade Intuitiva, da Consciência Ativa e da Egoência, conceitos de suma importância para o surgimento de novas possibilidades de expressão, que visam à construção de um melhor ator pela desconstrução de formas obsoletas de comunicação e de velhos paradigmas. A prática dos RITOS consiste no trabalho físico, psíquico e intelectual constante e progressivo dos atores, estimulando-os a auto conscientização e a descoberta de novas possibilidades de expressão através dos RITOS assimilados, possibilitando a conquista de um ator renovado, capaz de comunicar-se num nível que ultrapassa os limites do texto e da marcação. Na obra que proponho em meus textos, na encenação, bem como, no trabalho dos atores, percebe-se os movimentos circulares e oscilatórios complexos, que são padrões semelhantes, muito parecidos, mas que nunca se repetem exatamente da mesma maneira. Uma mesma fala pode aparecer várias vezes no corpo de um texto, mas dito de outra forma, com outro tom, em outro contexto, gerando um significado semelhante e ao mesmo tempo diverso. A encenação, em sua essência, demonstra repetições por várias vezes, dando a entender que exatamente onde o espectador espera um fim, surge um novo começo. Seu conteúdo reflete a sugestão da própria natureza, de que o duradouro não são os objetos e os seres, mas a ação do tempo na cena, que em suma é sempre um fim em si mesmo; onde cada fim supõe um novo começo. Na construção da narrativa junto aos atores, ainda que as frases e movimentos sejam repetidos e idênticos em sua estrutura, fica claro para quem os observa e executa que o significado do texto muda de um parágrafo para o outro, o movimento e o tom, ritmo e expressão, de uma cena para a outra. Ainda assim, depois de 30 anos de teatro; chego à conclusão de que além de criar uma linguagem para o trabalho do ator, era necessária uma metodologia de ação no palco, na encenação, e sobre tudo uma forma específica de texto para que todos os aspectos da obra pudessem entrar em sintonia com a proposta artística, com a obra em sua totalidade enfim. Assim, em sua complexidade infinita, descobri que jamais existirá um fim, um caminho único ou um algoritmo para agregar tantas necessidades. Mas deixo em meus textos, e nos futuros livros, uma herança que poderá ser um caminho para novas descobertas. O Teatro Fractal em conjunto com a Metodologia dos Ritos abrirá portas para o infinito e complexo universo da criação humana, será uma fenda na mentalidade criativa do Homem contemporâneo para novas possibilidades, novas visões na longa e infinita estrada para o futuro.
* São Francisco de Paula – RS – Brasil - 27 de setembro de 2009 - Domingo; 11h18min – Do quarto do Hotel Cavalinho Branco – Na janela do quarto de frente para um lago muito lindo. Chove muito lá fora, quase não tenho fome. Cheguei aqui para descansar, mas em minhas oscilações fractais, acabei por formatar meu primeiro livro. O livro que em verdade é um conjunto de espetáculos, textos originais, traduções, adaptações, criações originais, toda espécie de tentativa para que minha dramaturgia possa existir de fato, para que algo no palco possa gritar antes que me esqueçam, antes que o Teatro FRACTAL e a metodologia dos RITOS sejam ignorados e esquecidos, amarelados num canto qualquer da coxia, perdidos nos bastidores de um velho teatro adormecido, desativado... Antes que o próprio tempo dê cabo às minhas lembranças e todos os meus arquivos sejam infectados por um vírus fatal, antes que nem mesmo o sol possa servir como testemunha, antes que eu não tenha mais inspiração ou forças para trabalhar com teatro... Antes que toda que a madrugada avance para o dia seguinte... ANTES DO TERCEIRO SINAL.
Janssen Hugo Lage.
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